quarta-feira, 15 de agosto de 2012

o que virá, antes de virar pó


Deixarei teus braços procurando os meus. Na cama só sobrará o cheiro do vinho, uma conversa banal, um conto qualquer sobre camafeus. Não te acordarei para poder ler teus sonhos pela manhã macia, sentir os primeiros raios do amanhecer me chamando para fora, me fazendo fogueira, me tecendo preces numa aurora qualquer. Não te ligarei, não te atenderei, não receberei tuas flores, teu vaso quebrado, teu olá desamparado de quem pensou o que dizer pelas últimas horas do dia, de quem não trabalhou a manhã inteira esperando cair a noite, que devorou as horas para que acelerasse o momento de ouvir minha voz ao telefone. Irei te dizer que não tenho tempo, mas não tenho pressa, que quero morno quando a brasa ferve nossos pensamentos, que a insanidade já me deixou caída num beco da rua augusta, que teus ombros não sustentarão minha dor quando esta me abraçar. Te direi, ou gritarei, melhor ainda, a plenos pulmões, que quero ar, não falta. Que minha história tem mais desdém que barca furada, telha rachada, gota de chuva pingando no meio da testa no sono tranqüilo. Te lançarei olhares, irei a jantares, recusarei convites para a noite acabar num adeus de olhos se trocando pelos versos. Serei versos, e toda sua. Te farei cartas como das antigas, anotarei seu destinatário, selarei com qualquer coisa o que vier à minha mente e te direi verdades tão inconseqüentes que meu rosto enrubescerá toda vez que te vir. Mas antes de tudo, quero capturar esses teus olhos de enchente pela madrugada. Quero ser a lua nessa tua maré beijando a areia dourada. Quero rimar na tua poesia, fazer do amor um jogo de esgrima, que me esquivo e me movo e me lanço para frente, para trás e perco por não entrar na tua dança, por fazer da minha esperança um pecado em te amar.

beatriz marques.

achei digno de compartilhar

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