domingo, 16 de dezembro de 2012

Da janela #4


Um homem está parado na calçada. Chuta o chāo algumas vezes, olha ao seu redor, pro alto. Imagina se estaria sendo visto. Olha o relógio sem ver as horas, olha tudo o que pensa. Aperta o embrulho que tem nas māos, dá meia volta e pára quando se ouve o "tleck!" do portāo se abrindo. De dentro do portāo, ele já via antes através do vidro, sai uma mulher tāo arrumada quanto ele. De longe se supunha que tinham bom cheiro, mas nāo se aproximaram demais quando se aproximaram. Uma māo na cintura, nem beijo no rosto. Ela, pelo contrário, torce os lábios em brincadeira. A saudaçāo é uma broma que leva um pouco mais que o comum. Na rua, apenas eles.
Quando vāo começar a andar, ele lembra do embrulho já amassado pela espera. Entrega-lhe em gesto de presente. Ela sorri olhando pra ele, leva o embrulho ao peito agradecida e o abre. É uma bolsa que, dobrada em mil pontas, cabe no bolso, mas aberta pode levar muitas coisas. Um monte de livros, maquiagem, celular, as chaves do portāo e da porta que ele gostaria de entrar de volta com ela. O presente é analisado sem grande satisfaçāo - nāo era mesmo muito bonito, um objeto trivial. Talvez para eles tenha mais significado. E ele vai embrulhá-lo de volta para ela. Enquanto a bolsa se vê dobrada em mil partes de volta, ela o observa e ajeita o cabelo dele. Pronto.
E finalmente seguem andando juntos, com certo distanciamento, certa tranquilidade, certa expectativa de sei lá, um avanço, uma boa conversa, uma expectativa de nāo se ter expectativa que atrapalhe. Dobram a esquina juntos.
Eu ficaria aqui escrevendo esperando eles voltarem daqui a algumas horas, seria interessante. Mas o meu interfone começa a tocar.

2 comentários:

  1. muito interessante esse jeito de enxergar um singelo momento. gostei...

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  2. E eu fiquei curiosa quanto ao desenrolar dessa aproximação.

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