terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Brincadeiras

Aos dos outros não, mas seus erros eu perdôo. E brinco te chamando da pessoa mais humana que conheço. Brinco com o que sinto me calando o coração para soltar outro riso bobo de quem não quer briga. Nem saber muito, para evitar dor demais. É assim: você vive tropeçando, mas eu é que caio e me arrebento.
Hoje você vem, sei de cor porque conto os dias. É o sábado da minha semana, mesmo sendo só terça-feira. Você liga avisando, pega o ônibus pelas duas, vai chegar por volta das três e eu ansiosa. Mamãe vai preparar algum bolo pra gente comer, mas só te espero chegar pra descer e ficarmos a sós no portão olhando o mundo que passa, rindo, beijando, beijando muito. Guardo todos os meus pra você, porque minha boca só se completa na sua.
Din-don. Parece que você aperta meu coração junto com aquele botão. Desço, sempre nervosa. Giro a chave e meu estômago já todo virado. Ninguém. Alarme falso? Alguma criança, aposto que foi o Serginho, escondido ali. O susto é tão grande que perco as forças nos seus braços quando te vejo no esconderijo da criança. Você é assim, brincalhão. Brinca até com o que não se deve. Mas me faz feliz.

- Saudade.
- Simm! Muita saudade!
Minhas mãos molhando as suas enquanto conto minhas histórias, você sempre calado. Às vezes penso que não presta atenção. É muito romântico também. Diz as coisas mais lindas e engraçadas. Quando são umas cinco a gente entra e fica atrás do portão sem subir a escada, agora escondidos do mundo.
Nem me dei conta e você colocou a minha mão lá. Agora engasgo de tanto que bate o peito. Bate e você massageia. Ergue-me pelas coxas e fico apoiada entre a parede e o seu corpo tão jovem quanto o meu. A única coisa que você me pede quando liga avisando que vem é que eu vista uma saia. Faço que não entendi mas adoro o pedido. Fico louca que para desfilar todas as minhas fantasias no seu bloco, mas agora estou tão nervosa... A minha primeira vez e também a sua. Vamos chegar lá.
- Natália!
Se eu não cuspi meu coração agora, jamais cuspirei. Quando você já estava quase me penetrando toda apertada-molhada-epa!-, meu pai chama.
Você fica puto, entro em desespero. Será que ele viu? Vai lá. Os dois tensos. Subo, desço, ele no banho queria saber como eu havia acabado com o xampu. Derramou.Que nem a nossa cara.
Você me diz que é hora de voltar, ainda não passam das oito. Liga quando chegar?
Escolhi minha música favorita como toque pra quando você chamar: “Lanterna dos afogados”. Espero acordada pelas notas que não saem do telefone -nem da cabeça- à noite.


Matheus, 07/12/10

2 comentários:

  1. "Espero acordada pelas notas que não saem do telefone -nem da cabeça- à noite."

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  2. Ah, primeiras vezes... sempre desajeitadas, sempre mal planejadas. Mas são as que ficam na memória. Gostei do texto.

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