domingo, 20 de março de 2011

Tempo vai, vento vem

E o vento leva.

Madrugada outra vez. No céu a lua cheia de noites vazias. Corre o tempo em câmera lenta. Passos apertados e, pelos dedos, cinzas de cigarros. Pelos devaneios, cinzas de lembranças. O tempo fecha, ameaça chover e o asfalto não molha. Sua vida tem sido assim: a iminência; não sabia mais de que. A expectativa por uma mudança, uma pessoa, outra fase, não importa. O que tiver de diferente por favor que piorqueissonãofica. Mas o mundo inteiro sabe que fica.
Foi quando começou a chover. Ele estranhou, pois queria mesmo um bocado d’água. Reduziu o passo até parar no meio de uma rua menos movimentada, plena reflexão. Deixou-se encharcar e viu que a água poderia limpar suas mãos das cinzas de um cigarro banal, porém jamais o aliviaria a lembrança - pelo contrário. Dentro da roupa molhada, primeiro vislumbrou-a correndo, divertida sob a chuva durante um carnaval qualquer. Poderia ter sido uma doce recordação, mas - embriagados devaneios - não soube precisar como ela era – cinzas – o que trouxe-lhe certa aflição. Olhando ao redor reconheceu que poderia já ter estado ali com ela. E desconfiou que talvez neste momento alguém a estivesse levando para correr em uma rua como aquela, numa cidade como aquela e com roupas como as suas. Voltou a andar. A chuva parou. Ela voltaria - não a chuva, ela.-? Pela noite, passou a acreditar possuir uma conexão com ela em outro plano e talvez por isso não soubesse definir nem lembrar quase nada além de seus sentimentos. Mas sabia que já estivera mais próximo dela. A reconhecia de alguma memória. Mirada pelo triste céu de São Paulo ou ardida das areias do Nordeste. Foi então que pensou uma solução: juntando as cinzas da lembrança, tentava elaborar a estátua mais bonita para apelidar com o seu nome – se lembrasse nome. Catava com as duas mãos, juntava e colocava monte sobre monte antes de começar a dar formas. Obviamente nem conseguiu terminar os pés. Cinzas são leves e insensíveis demais. Gostam de liberdade e seu maior amigo é o vento. E como ventava nos pensamentos desse cara. Talvez não fosse mesmo bom brincar com uma lembrança meio morta.

Contemplando uma velha amarga angústia, ele traçava a cidade na madrugada, agora afim de uma dose da bebida mais forte que encontrasse, para ajudar a engolir qualquer coisa presa na garganta. Sua sombra desfilando na luz amarela repercutida pelo asfalto molhado. E a vida ardendo entre sonho e realidade. “Afinal, ela existiu?”

Já arrastando o hoje na conta do ontem, vazio, esperava o amanhã trazer uma resposta.


Matheus Marins
20/3/2011

2 comentários:

  1. "O vento vai dizer lento o que virá."

    Bem que eu desconfiei que era com "x" HAHA, mas como o "abc" do blog não acusou erro, eu deixei como estava rs. Obrigada! =)

    :*

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