quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ninguém te impede de ser escritor
a não ser você mesmo

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Se as suas pernas fossem bolas de ferro de 16 toneladas, ainda assim não causariam estrago algum. No seu jeito de andar graciosa, como se o chão machucasse, parece que os seus pés apenas dançam e equilibram-se sobre uma bola gigante e que todos em potencial - eu em particular - dependem do seu rumo incerto acima dessa bola. Trazes o mundo para mim com seus passos de balé despojado, sempre com jeito de coisa nova, num sorriso de criança indefesa mas olhar de mulher decidida.
Na sua levada, até a vida se perde. Confunde o relógio. Poderia ser um erro cada passo seu - esse mundo tão esquisito.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

o que virá, antes de virar pó


Deixarei teus braços procurando os meus. Na cama só sobrará o cheiro do vinho, uma conversa banal, um conto qualquer sobre camafeus. Não te acordarei para poder ler teus sonhos pela manhã macia, sentir os primeiros raios do amanhecer me chamando para fora, me fazendo fogueira, me tecendo preces numa aurora qualquer. Não te ligarei, não te atenderei, não receberei tuas flores, teu vaso quebrado, teu olá desamparado de quem pensou o que dizer pelas últimas horas do dia, de quem não trabalhou a manhã inteira esperando cair a noite, que devorou as horas para que acelerasse o momento de ouvir minha voz ao telefone. Irei te dizer que não tenho tempo, mas não tenho pressa, que quero morno quando a brasa ferve nossos pensamentos, que a insanidade já me deixou caída num beco da rua augusta, que teus ombros não sustentarão minha dor quando esta me abraçar. Te direi, ou gritarei, melhor ainda, a plenos pulmões, que quero ar, não falta. Que minha história tem mais desdém que barca furada, telha rachada, gota de chuva pingando no meio da testa no sono tranqüilo. Te lançarei olhares, irei a jantares, recusarei convites para a noite acabar num adeus de olhos se trocando pelos versos. Serei versos, e toda sua. Te farei cartas como das antigas, anotarei seu destinatário, selarei com qualquer coisa o que vier à minha mente e te direi verdades tão inconseqüentes que meu rosto enrubescerá toda vez que te vir. Mas antes de tudo, quero capturar esses teus olhos de enchente pela madrugada. Quero ser a lua nessa tua maré beijando a areia dourada. Quero rimar na tua poesia, fazer do amor um jogo de esgrima, que me esquivo e me movo e me lanço para frente, para trás e perco por não entrar na tua dança, por fazer da minha esperança um pecado em te amar.

beatriz marques.

achei digno de compartilhar

terça-feira, 7 de agosto de 2012

rascunho

Contenta entre as veias o sabor dos carinhos enquanto estima a saudade futura, não dá.
Prepara a mala somente com o necessário e possível, impossível.
E vai atrás da experiência, do mundo correndo solto. Que medo.
Poderia ficar bem quietinho... mas adora correr. E ficar.

Leva no peito e pro mundo todas as contradições.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Dor de amantes desencontrados


... e passou olhando para o prédio dela com um misto de ciúme e costume. Uma pontada no peito por ver-se de súbito desfalcado. Não fosse o orgulho, reconheceria a saudade. A altivez, sua armadura, o prevenia dos olhares alheios mas não o poupava de pagar com todas as insônias o que ele fizera e deixara de fazer. Uma luta para evitar a turbulência de um avião pousado num aeroporto em terremoto. Recolheu seus olhos vigilantes, bruxuleantes sob a mesma luz que já antes o iluminara alegre e ingênuo. Sentiu o nó na garganta que confundia o seu rumo e continuou andando, amputado.